
Jandira havia tomado uma decisão. Queria se casar! A tempos não tinha tanta certeza em sua vida quanto a de agora. Definitivamente, para sempre, até o infinito! Mas havia um problema que fazia esse seu sonho parecer distante e remoto. Ela não tinha o noivo. Na realidade, nem mesmo um pretendente. Coitadinha, mesmo assim, não tirava a idéia da cabeça. Afinal, já estava no auge de seus dezenove anos e onde já se viu, uma moça dessa idade não namorar? "O que tem de errado comigo?", se perguntava com freqüência. Sabia dar conta de todos os afazeres domésticos, ajudava o pai e a mãe em casa e não era de todo feia. Assim, dava pra quebrar um galho...até que sabia se cuidar, manter sua beleza natural. Não saia de casa sem maquiagem, sempre bem vestida com vestidos e sapatos da moda e aquele cabelo loiro, liso e fino, lindamente escovados para trás. O que faltava mesmo, era sorte no amor. Tanto é que vira e mexe, Jandira ganhava o prêmio do jogo do bicho, realizado na quitanda ao lado de sua casa a cada 15 dias. “Sorte no jogo, azar no amor”, pensava. Mas ela queria mudar essa história. Queria mais que tudo, um marido pra cuidar e que cuidasse dela. Então, chegou o mês de junho, e com ele, o plano de Jandira. Iria fazer uma simpatia no dia de Santo Antonio, o santo casamenteiro! Tinha ouvido por aí que na noite mais fria do ano, dia de Santo Antonio, se enchesse uma bacia d’água e a colocasse do lado da cama, adormecesse, e no outro dia lavasse os cabelos com aquela água, não demoraria muito para que o marido aparecesse. Pronto, era assim que ia ser! E foi isso que Jandira fez. Chegou finalmente o dia e aprontou tudo. Até foi dormir mais cedo, para ter certeza que nada daria errado.
No outro dia, ao amanhecer, Jandira acordou animada. Tinha até a impressão de ter sonhado com o futuro casamento. Levantou da cama em um pulo e nem se deu conta do frio que fazia naquela manhã. Mais que depressa, pegou o balde, foi até ao banheiro e pronto. Jogava aquela água congelada em seus cabelos, sentindo cada gota fria escorrer por suas costas. “Nem ligo, o melhor está por vir”.
Mas assim que acabara o ritual, Jandira pegou a toalha e viu que algo muito estranho tinha acontecido em seu cabelo. Aquela água, de tão, mais tão gelada que estava, acabara com seu lindo cabelo loiro, liso e fino. Tinha o transformado em pequenos pedaços quebrados de fios. Ela passava as mãos trêmulas por sob a cabeça, e tudo que via era fios e mais fios caindo, quebrando, despedaçando.
Pobre Jandira. Acabara por fim, sem marido, sem cabelos e sem esperanças. Aprendeu que não adianta, as coisas acontecem quando têm que acontecer. Se tentar ultrapassar as etapas da vida que tem que passar, pode acabar acontecendo um imprevisto bem grande. E que no caso dela, não tinha valido nem um pouco a pena, pois sem cabelos, demoraria ainda mais para que seu príncipe encantado um dia batesse em sua porta.