Era mais um dia comum na vida de Glauco. Como em todos os outros, levantara da cama pontualmente as 6h00 da manhã para seguir sua rotina. Bebeu um copo de leite gelado e escovou os dentes. Escolheu a camisa branca, sua preferida para ir trabalhar, vestiu a mesma calça que usara no dia anterior e calçou os sapatos surrados. Ao pentear os cabelos castanhos e compridos, olha para o calendário e se dá conta que seu aniversário de 29 anos está chegando. Sente um imenso alívio por não ser 30. Ri sozinho. Antes de sair, dá uma ultima olhada para a casa, pega a chave, tranca a porta e sai de cabeça baixa. Pobre Glauco. Não há uma pessoa para vir dar-lhe um beijo de despedida, ou somente um alguém que lhe deseje um bom dia de trabalho. No entanto, há cinco anos já estava acostumado a isso, desde que sua mãe fumante falecera de um terrível câncer no pulmão. O pai, nem chegou a conhecer. Morrera num fatal acidente de moto, pouco antes de seu nascimento.
Sua única irmã, Mirela, havia se casado a 6 anos com um jovem morador no interior de Minas. Desde então, nunca mais a viu. Só se falavam a cada 2 meses, por telefone.
Seu ultimo relacionamento acontecera a um ano e meio. Namorou por 10 meses com uma menina 5 anos mais jovem, bonita, mas não muito inteligente. Seus únicos assuntos preferidos eram novela, signos do zodíaco e moda. Apesar disso, Glauco gostava de sua companhia. O relacionamento ia bem, quase nunca discutiam, até o dia que, sem mais nem menos, a menina resolve dispensá-lo, alegando que precisava de um tempo sozinha. Nunca mais aparecera, e Glauco, depois de 3 meses solteiro, percebeu que o namoro nem valia tanto a pena assim. Podia tocar a vida, sozinho, ‘como o destino havia selado’, pensava.
Morava, desde seu nascimento, numa casa situada em um bairro de classe média baixa, no interior de São Paulo. Sua vida, então, havia se tornado nisso: rotineira e monótona. De casa, ia para o trabalho. Do trabalho, ia direto pra casa. Tornou-se evidente que sua única preocupação era ganhar dinheiro para manter seu próprio sustento.
A muito tempo, Glauco não sabia mais o que era tristeza. Muito menos felicidade.
TO BE CONTINUED...